Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar e Renovabio
Colheita de cana em Mato Grosso, Brasil - Fonte: Secom/MT.
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O presidente Jair Bolsonaro sancionou um
decreto, no ultimo dia 6, revogando a proibição da expansão do cultivo de cana-de-açúcar
em três regiões sensíveis do Brasil, os quais pertenciam ao chamado zoneamento
agroecológico (ZAE).
O zoneamento, de setembro de 2009, elaborado
pela Embrapa, estabelece as regiões aptas à expansão da cana-de-açúcar. O
estudo exclui três áreas dessas regiões, por terem características ambientais
importantes, que são a Amazônia, o Pantanal e Bacia do Alto Paraguai (BAP),
onde nascem os rios pantaneiros. Os objetivos do zoneamento são fornecer
subsídios técnicos para formulação de políticas públicas visando à expansão e a
produção sustentável de cana-de-açúcar no território brasileiro. Acesse o ZAE
na íntegra em MMA.gov.br.
O Brasil adotou o zoneamento como
diferencial competitivo, para tornar-se um líder na exportação de
biocombustíveis, excluindo regiões que eram frágeis ambientalmente e que também
apresentavam desafios logísticos ou clima inadequado para a cultura da cana. Seguindo
a diretriz estabelecida pela União Europeia para a ampliação do uso de
biocombustíveis devido à preocupação em garantir que estes não competissem com
culturas alimentares e nem gerassem devastação ambiental. O zoneamento
estabeleceu então que não houvesse financiamento público para expandir o
cultivo ou criar novas usinas nas três regiões vulneráveis citadas ou em zonas
de declividade superior a 12º que demandariam o uso de trabalho degradante
(bóias-frias).
Diante da perspectiva de crescimento e
expansão da cana no país, o Observatório do Clima e o Instituto Socioambiental
(ISA) afirmam que “Não há necessidade de um único hectare de terra amazônica ou
pantaneira para cana-de-açúcar”, considerando os ganhos de produtividade e a
estimativa atual para sua expansão. Veja a entrevista completa em RENOVABIO.
Zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar – áreas aptas no Brasil - Fonte: Embrapa, 2009 |
A produção atual de cana atende ao RenovaBio, a nova Política Nacional de Biocombustíveis, Lei nº 13.576/2017. Confira mais em PLANALTO.
O objetivo da lei é atender às metas do Acordo de Paris de aumentar a
proporção de etanol e biodiesel na matriz energética brasileira. Como
instrumentos da lei, os produtores podem requerer a Certificação dos
Biocombustíveis e os Créditos de Descarbonização (CBIO), que serão negociados
na bolsa de valores. Porém, a lei não trata sobre desmatamentos. O único
instrumento da nova política que menciona o assunto é a Resolução 758/2018
da Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis, que regula a certificação da
produção de etanol e biodiesel. Acesse Legislação ANP.
A Resolução da ANP afirma que as unidades certificadas não poderão ter
desmatamento após 2018, mas cita duas ressalvas importantes: primeiro, só se
considera para a certificação a área cultivada com culturas energéticas dentro
da propriedade, sendo que o restante da área poderá ser desmatada dentro dos
limites do novo Código Florestal de 2012. Lei completa em L12651.
Segundo, a certificação também pressupõe que a produção elegível para
certificação, no caso da cana, esteja nas áreas estabelecidas pelo próprio
zoneamento da cana, que foi revogado. Ou seja, a suposta garantia ambiental que
embasou a revogação do zoneamento depende do próprio zoneamento revogado! O
zoneamento garantia a sustentabilidade do álcool brasileiro e era defendido
pela Única (União das Indústrias da Cana-de-Açúcar), que mudou de posição. Segundo
o Observatório do Clima e o ISA “Sem o zoneamento, o álcool brasileiro poderá
voltar a frequentar as listas sujas de biocombustíveis, prejudicando as
exportações”.
Para cumprir com o compromisso no Acordo de
Paris, o Brasil precisaria olhar para duas vertentes: aumentar a produção
de etanol para 54 bilhões de litros até 2030 e diminuir sensivelmente o
desmatamento, que é o principal fator de emissão de gases do efeito estufa no
país. Sendo assim, esta decisão pode não beneficiar a produção, tampouco a
imagem do Brasil no exterior, além dos danos causados a essas áreas terem
efeitos ainda incalculáveis. Contudo, subtende-se que com a nova política de
crescimento econômico do recente governo, a qual incentiva o agronegócio e a
expansão de culturas com alto rendimento no mercado (commodities), as questões
ambientais deixaram de ser uma prioridade.
Profa. Fernanda de Freitas Borges
Elaborado por Profª Fernanda - Desenvolvido por Comunicação Fatec Jaboticabal
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