O que é Fome Oculta?

  Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a fome oculta é uma deficiência de micronutrientes (vitaminas e minerais); um desequilíbrio na alimentação acarretado pelo consumo insuficiente dos alimentos que são fontes de micronutrientes essenciais, tais como frutas, legumes e verduras, peixes e óleos vegetais, leite e derivados.

    Diferentemente da fome clássica ou da má nutrição, a fome oculta pode aparecer mesmo em pessoas que ingerem as calorias necessárias ou até mesmo naquelas que apresentam excesso de peso ou obesidade. Ela não acomete somente os indivíduos que vivem em situação de escassez de comida, mas também aqueles que consomem alimentos em excesso. Cerca de um terço da população mundial sofre de fome oculta, porém é mais frequente nos países em desenvolvimento, principalmente em relação à falta de vitamina A, ferro e zinco. Os efeitos nas crianças e adolescentes pode ser o comprometimento do crescimento e desenvolvimento e, nos adultos, a deficiência do sistema imunológico e o surgimento de doenças crônicas como a hipertensão arterial, diabetes e osteoporose.

  Órgãos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) recomendam programas de suplementação de micronutrientes e fortificação de alimentos e campanhas de incentivo ao consumo de vegetais para a prevenção da fome oculta (Leia sobre Nutrição em Geral).

   O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) caracteriza a fome oculta quando há redução da quantidade de alimentos entre as crianças ou quando alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de recursos. Já a insegurança alimentar é caracterizada quando há redução da quantidade ou qualidade de alimentos ou a ruptura nos padrões de alimentação devido à falta deles. Muitas famílias vivem de maneira precária e carecem dos recursos necessários para sobreviver, situação que foi agravada após a pandemia e cerca de 150 pessoas morrem de fome por ano somente na cidade de São Paulo (Veja sobre o assunto em Insegurança Alimentar). A desnutrição e a insegurança alimentar também podem ser consideradas como fome oculta de forma mais grave.  

   Na crise atual, com a queda nas receitas das famílias e a interrupção das cadeias de suprimentos, aumentaram as perspectivas de insegurança alimentar. Muitas crianças dependem da merenda escolar, que deixaram de ser servidas enquanto as escolas ficaram fechadas na quarentena. A desnutrição, uma preocupação em todas as idades, é ainda mais grave nos primeiros anos de vida, pois afeta a capacidade de aprendizagem e se torna uma desvantagem permanente (Banco Mundial, 2020). A insegurança alimentar grave pode ser caracterizada como “fome” e está diretamente ligada a pobreza ou extrema pobreza. Segundo uma pesquisa realizada, a questão de gênero está inserida no contexto e existe uma ordem de quem come primeiro quando se tem pouca comida. O pai de família come primeiro, as crianças comem antes da mãe, a mãe come por último. A mãe, por vezes, pula a refeição ou come o que sobrou das crianças (Ribeiro, 2018 – Publica).

   De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas) a insegurança alimentar moderada e aguda no Brasil aumentou 13% nos últimos três anos, atingindo 43 milhões de pessoas em 2019. Também 9% da população mundial foi afetada pela fome neste mesmo ano (State of Food Security and Nutrition - SOFI). O documento faz um rastreamento do desempenho e trajetória dos países para alcançar a erradicação da fome global, uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da ONU para 2030. É um alerta não só sobre a quantidade de comida ingerida, mas também sobre sua qualidade, pois as dietas saudáveis são inacessíveis para os mais pobres. Os órgãos internacionais apontam que os alimentos saudáveis são, em média, cinco vezes mais caros do que alimentos industrializados. O documento ressalta ainda que as crianças são grandes afetadas pelo grave cenário da ausência de alimentação e oferta em má qualidade.

   Por outro lado, segundo a FAO, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidos por ano no mundo, o que representa de 1/3 do total produzido. Esse número abrange toda a cadeia alimentar: campo, indústria, logística, varejo e consumidor. Somente no Brasil, são desperdiçadas 23,6 milhões de toneladas de alimentos por ano, o que representa mais de 40 quilos de LIXO POR PESSOA ao ano. As perdas e desperdícios têm grande impacto na sustentabilidade dos sistemas alimentares, reduzem a disponibilidade local e mundial de alimentos, geram menores recursos para os produtores e aumentam os preços para os consumidores. Com os alimentos que se perdem na América Latina e Caribe só no âmbito de venda nos supermercados, feiras livres, armazéns e os demais pontos de venda, seria possível alimentar mais de 30 milhões de pessoas, o que representa 64% dos que sofrem com a fome na região (Confira mais aqui).

  Diante disso, podemos levantar algumas questões para refletirmos sobre soluções para acabar com a fome no país e alcançarmos os ODS:

  O agronegócio está cumprindo o seu papel de “matar a fome da população” ou apenas produzindo commodities?

  Sistemas sustentáveis de produção, baseados na agricultura familiar, podem contribuir para diminuir a insegurança alimentar?

  É necessário aumentarmos as fronteiras agrícolas para suprir a demanda de alimentos com a atual quantidade desperdiçada?

  Os governos devem incentivar um planejamento familiar para famílias vulneráveis como uma maneira de evitar a fome?

  Até quando haverá disponibilidade de recursos naturais para produzir alimentos para uma população crescente?


 Profa. Dra. Fernanda de Freitas Borges




Imagem 01 - amenteemaravilhosa.com.br
Imagem 02 - FAO/ABRAS, 2017
Desenvolvimento - Valeria Z/Comunicação Fatec Jaboticabal
Texto - Fernanda de Freitas Borges

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